OS PRIMEIROS ESTUDOS SOBRE MAGIA FORAM ELABORADOS PELOS S'aBIOS JUDEUS E CRIST~aOS, PREOCUPADOS EM RELACION'a-LA COM SUAS CRENcAS, IDENTIFICANDO-A COMO UM VEST'iGIO DE PAGANISMO E COMO HERESIA. DURANTE O FINAL DO S'eCULO XIX, ANTROP'oLOGOS COMEcARAM A ESTUDAR A MAGIA E SUA INFLU^eNCIA NA EVOLUc~aO DAS RELIGI~oES MUNDIAIS. OS PRIMEIROS ESTUDOS ANTROPOL'oGICOS SOBRE A MAGIA FORAM REALIZADOS POR EDWARD TYLOR, QUE NO LIVRO PRIMITIVE CULTURE (1871; CULTURA PRIMITIVA) DEFINIU MAGIA COMO UMA PSEUDOCI^eNCIA, EM QUE O "SELVAGEM" INCORRETAMENTE AFIRMA UMA RELAc~aO DIRETA DE CAUSA E EFEITO ENTRE O ATO M'aGICO E O ACONTECIMENTO DESEJADO. EM THE GOLDEN BOUGH (1890; O RAMO DE OURO), JAMES FRAZER REDEFINIU AS CONCEPc~oES DE TYLOR SOBRE O PENSAMENTO M'aGICO, DISCUTIU O RELACIONAMENTO DA MAGIA COM A RELIGI~aO E A CI^eNCIA E SITUOU-AS NUM QUADRO EVOLUTIVO. FRAZER ACEITOU A TEORIA DE TYLOR SOBRE A FALSA RELAc~aO DE CAUSA E EFEITO ENTRE A MAGIA E OS EFEITOS NATURAIS E ANALISOU OS PRINC'iPIOS QUE GOVERNAM ESSA FALSA RELAc~aO. ESSES AUTORES E SEUS SEGUIDORES, COMO RANULPH MARETT, ENTENDERAM MAGIA COMO UMA QUEST~aO ESSENCIALMENTE INDIVIDUAL E INTELECTUAL, UMA DAS FORMAS COMO O INDIV'iDUO REFLETE SOBRE O MUNDO. OUTROS AUTORES AMPLIARAM A DISCUSS~aO E ABORDARAM A QUEST~aO DO PONTO DE VISTA DA FUNc~aO SOCIAL DA MAGIA, COMO FIZERAM OS SOCI'oLOGOS FRANCESES MARCEL MAUSS E 'EMILE DURKHEIM. EM LES FORMES 'eL'eMENTAIRES DE LA VIE RELIGIEUSE (1912; AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA), DURKHEIM AFIRMOU QUE OS RITOS M'aGICOS ENVOLVEM A MANIPULAc~aO DE OBJETOS SAGRADOS EM NOME DE INDIV'iDUOS. O SIGNIFICADO SOCIALMENTE COESIVO DOS RITOS RELIGIOSOS PROPRIAMENTE DITOS N~aO ESTAVA PRESENTE. AS ID'eIAS DO SOCI'oLOGO FRANC^eS FORAM SEGUIDAS POR RADCLIFFE-BROWN, AUTOR DE THE ANDAMAN ISLANDERS (1922; OS HABITANTES DAS ILHAS ANDAMAN) E, EM MENOR MEDIDA, POR MALINOWSKI, INFLUENCIADO MAIS POR FRAZER E PELOS PRIMEIROS PSICANALISTAS. RADCLIFFE-BROWN SUSTENTAVA QUE A FUNc~aO SOCIAL DA MAGIA ERA MANIFESTAR A IMPORT^aNCIA QUE O ACONTECIMENTO DESEJADO REVESTE PARA A COMUNIDADE. MALINOWSKI CONSIDERAVA A MAGIA UM FEN^oMENO OPOSTO `a RELIGI~aO, AL'eM DE DIRETA E ESSENCIALMENTE RELACIONADO `aS NECESSIDADES PSICOL'oGICAS DO INDIV'iDUO. OS ESTUDOS MAIS RECENTES SOBRE OS SISTEMAS M'aGICOS SE FIZERAM TOMANDO COMO OBJETO A MAGIA DE POVOS DA 'AFRICA E DA OCEANIA. BASEARAM-SE ESSENCIALMENTE NAS ID'eIAS DE MALINOWSKI E RADCLIFFE-BROWN E NO MAIS IMPORTANTE TRABALHO SOBRE O TEMA QUE SURGIU DEPOIS DESSES AUTORES: WITCHCRAFT, ORACLES AND MAGIC AMONG THE AZANDE (1937; FEITIcARIA, OR'aCULOS E MAGIA ENTRE OS AZANDES), DE EDWARD PRITCHARD. FREUD, AUTOR DE TOTEM E TABU (1918), EXERCEU, DURANTE ALGUM TEMPO, GRANDE INFLU^eNCIA SOBRE OS ESTUDIOSOS DO PENSAMENTO M'aGICO COM A ID'eIA SEGUNDO A QUAL A MAGIA, A PRIMEIRA FASE NO DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO RELIGIOSO, ERA SIMILAR, EM SEUS PROCESSOS ESSENCIAIS, AO PENSAMENTO DE CRIANcAS E NEUR'oTICOS. ESSA CONCEPc~aO PRESSUP~oE QUE SELVAGENS, CRIANcAS E NEUR'oTICOS ACREDITAM QUE DESEJO E INTENc~aO LEVAM AUTOMATICAMENTE A ATINGIR O OBJETIVO DESEJADO. ESSA ID'eIA FOI ABANDONADA PELOS ESPECIALISTAS, N~aO S'o POR QUE REVELA INCOMPREENS~aO DA NATUREZA EXPRESSIVA DO RITUAL M'aGICO, COMO TAMB'eM PORQUE ESTABELECE EQUIVOCADAS SEMELHANcAS DE COMPORTAMENTO ENTRE OS GRUPOS HUMANOS COMPARADOS.